Advogados do Sertão: palestrantes saúdam OAB por defesa do Rio São Francisco

Segundo Felix, a expectativa de vida do Rio São Francisco está nas experiências construídas pelos povos da região. “Não existe salvação do São Francisco sem encarar para valer uma moratória do São Francisco. E a OAB pode ajudar muito nisso. É preciso fazer uma moratória dos licenciamentos do uso das águas do São Francisco. Barrar o licenciamento de qualquer projeto e fazer um diagnóstico da situação. E garantir o saneamento (de toda a região)”, defendeu ele.
Felix elogiou a iniciativa do Conselho Federal da OAB, que anunciou nesta quinta-feira a criação da Comissão Nacional de Defesa do Rio São Francisco. “Fiquei muito feliz em saber que a OAB agora vai ter uma comissão para atuar em defesa do São Francisco. Se a OAB encampar a luta pelo São Francisco, não estará encampando apenas uma luta das populações que vivem na bacia do Rio São Francisco, estará encampando a defesa dos povos do Brasil e do planeta inteiro”, disse o ativista.
Ele destacou a mineração e a degradação do cerrado como dois aspectos fundamentais na deterioração que o São Francisco sofre atualmente. “O cerrado é a principal caixa d’água do São Francisco”, resumiu. “Se a gente quer de fato encarar a problemática da bacia do São Francisco, precisamos olhar para além da calha do São Francisco. O rio não pode ser visto apenas como um canal de água ele precisa ser visto nas suas diversas dimensões”, sugeriu Felix, que citou a importância no zelo pelo solo, margens, povos, animais das matas e peixes que vivem no rio, uma região que abrange 640 mil km quadrados e uma população de cerca de 20 milhões de pessoas.
Mario Werneck, presidente da comissão ambiental e infraestrutura logística e desenvolvimento sustentável da OAB-MG, defendeu bandeiras semelhantes às expostas por Felix, por exemplo a questão da transposição do Rio São Francisco, na qual se colocou de forma energicamente contrária.
“Do jeito que está, esta transposição vai matar o Rio São Francisco. Por que não falaram em revitalização antes da transposição? Porque não cuidaram das margens? Por que não cuidaram das áreas de preservação permanente? É porque não há interesse nisso. Não adianta discurso bonzinho mais, não”, afirmou ele. “Temos de fazer muito mais. Sugiro criarmos a Força dos Advogados do São Francisco, que seria encabeçada pelos estados da bacia. Precisamos de um novo rumo, precisamos criar uma situação diferente”, disse Werneck.
“Se o desastre em Mariana tivesse acontecido em Nova Minas este Rio estaria morto. E isto pode acontecer porque os governos, tanto federal, quanto estaduais e municipais não têm amor pelo São Francisco. E não adianta falar em transposição porque isso é ilegal, é irreal e é imoral”, afirmou ele.
“O Rio é do povo brasileiro. Artigo 225 (da Constituição Federal) ‘todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Quando vi esse rio aqui maravilho do jeito que está, tive vontade de chorar”.
Fonte: CFOAB