Ana Patrícia Dantas Leão: primeira vice-presidente da história da OAB-BA



Na história da sua carreira, dedica um capítulo especial aos desafios enfrentados pelas mulheres no combate à violência e desvalorização profissional. Recém-formada, Ana Patrícia começou a trabalhar em um escritório de Salvador. A primeira experiência profissional, no entanto, durou apenas 19 dias e foi cessada imediatamente após um caso de assédio. Com a lembrança viva de quem se viu diante do algoz – mas também da coragem para vencê-lo de forma digna -, ela conta que um dia o dono do escritório a convidou até sua sala e lá lhe ofereceu um anel de brilhante, dizendo de forma presunçosa e repugnante que ela poderia ter tudo que desejasse, bastava aceitar aquele presente. Diante do desrespeito, a inquietação que há tanto tempo a acompanhava chegou a tal ponto que foi impossível contê-la. “Eu levantei e disse que nenhum presente poderia comprar a minha dignidade e que os meus sonhos mais valorosos não eram materiais, saí e nunca mais voltei, lamentando, no entanto, que outras colegas que lá permaneceram também fossem alvo de assédio e desrespeito como aquele. Não poderia sair sem dizer àquele homem o quão desrespeitoso ele era e que não me submeteria àquilo”, desabafou.

Essa é apenas uma das histórias que fazem com que Ana Patrícia, já há alguns anos, lute firmemente contra o assédio na advocacia. Um inimigo que, segundo ela, é invisibilizado no mundo jurídico. “Hoje tenho maturidade profissional e espaço de voz, o que faz com que as pessoas se inibam de praticar certas condutas comigo, mas não tenho dúvidas de que as jovens advogadas passam pelo o que passei e até por situações piores”, descreve. "E é necessário uma forte atuação e combate dessas condutas e apoio institucional às advogadas", completa. Daqui pra frente, ela espera que a bandeira contra o assédio seja erguida por cada vez mais advogadas e advogados, até que um dia nenhuma mulher se sinta desencorajada a reagir diante do agressor. “Precisamos fortalecer essa campanha a ponto de que todas as mulheres se sintam fortalecidas para reagir e de forma segura dizer NÃO, BEM COMO DENUNCIAR O ABUSO E VIOLÊNCIA!” OAB-BA
Ser a primeira mulher a ocupar a vice-presidência da Ordem na Bahia tem sido uma missão desafiadora, mas, acima de tudo, uma experiência de muito aprendizado. Ana Patrícia ressalta o trabalho em equipe estimulado pelo presidente Luiz Viana Queiroz e o apoio que as mulheres estão recebendo da Diretoria para mostrarem seu trabalho. "Somos um grupo plural, cuja base é o respeito e a democracia, tudo sob a liderança inspiradora do nosso presidente Luiz Viana Queiroz". "Na atual gestão da OAB, temos advogadas ocupando posições destacadas na Diretoria, como a Tesoureira Daniela Borges, no Conselho Seccional e Federal, na Procuradoria Geral de Prerrogativas, nas diversas comissões, nas presidências e diretorias as Subseções do interior. Acho simbólico e importante que as mulheres ocupem essas posições políticas, resultado do trabalho e conquista de muitas advogadas que já passaram pela OAB, como Joselita Leão, por exemplo, Medalha Ruy Barbosa da OAB-BA, e tantas outras, que igualmente dignificaram a consolidação da história da OAB abrindo caminhos para que mais mulheres ocupassem e ocupem os espaços políticos em nossa Instituição".

Com sua experiência profissional e a trajetória nos trabalhos da Ordem, que inclui a participação na gestão 2013-2015 da Escola Superior de Advocacia Orlando Gomes (ESA), onde contribuiu para o fortalecimento da Escola e expansão dos cursos para todo o estado da Bahia, Ana Patrícia orienta aos jovens advogados que tenham paciência, persistência e que nunca deixem de estudar e jamais desistam dos seus sonhos. Conta que sente orgulho de fazer parte da OAB e contribuir, ao lado do Presidente Luiz Viana Queiroz e todos os advogados e advogadas que fazem parte dessa gestão, do projeto de resgate da valorização e fortalecimento da advocacia. Finaliza dizendo que a advocacia é uma das mais dignificantes trajetórias profissionais, se realizada com ética, comprometimento e paixão. Relembra a imortalizada lição deixada por Raul Chaves no sentido de que: “Advogar é combater, é lutar, é opor-se, é apaixonar-se pela paixão alheia; é sofrer o martírio de não poder ajustar a razão do cliente, nem sempre dentro da lei, à inflexibilidade da norma; é não ser compreendido, às vezes, por aqueles mesmos aos quais representa; é enfim, e mais uma vez, fazer um pouco de bem silenciosamente; é penetrar na alma dos que se confiam a nós, viver suas ânsias e dores, viver suas alegrias”. Fotos: Angelino de Jesus (OAB-BA)