Após pedido da OAB Bahia, Polícia Civil registra boletim de ocorrência contra homem que ofendeu Ialorixá Jaciara Ribeiro
Identificado como Gabriel Procópio Sonàtto, homem proferiu palavras de ódio e agressões verbais contra sacerdotisa do terreiro Axé Abassá de Ogum
Após a ocorrência de mais um episódio de intolerância religiosa contra a Ialorixá Jaciara Ribeiro, a OAB Bahia pediu providências para apurar o caso. Em vídeo que circula pela internet, um homem negro, identificado como Gabriel Procópio Sonàtto, profere palavras de ódio e agressões verbais contra a Ialorixá, pertencente ao terreiro de candomblé Axé Abassá de Ogum.
A seccional solicitou à Coordenação Especializada de Repressão aos Crimes de Intolerância e Discriminação (Coercid) da Polícia Civil da Bahia, em caráter excepcional, que fosse realizada uma visita ao terreiro para registro de boletim de ocorrência. A solicitação foi acatada pelo delegado Ricardo Amorim, que, acompanhado da presidente da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa da OAB Bahia, Maíra Vida, fez a visita e registrou o B.O.
Gravado na última quinta (21), um dia após o Dia da Consciência Negra, o vídeo mostra Gabriel dizendo que a sacerdotisa “será ferida até sair sua verdadeira adoração perante a Deus". O homem aparece exaltado, com o dedo apontado para a Ialorixá. Jaciara, que transitava pela praça Terreiro de Jesus após participar de um evento da Prefeitura de Salvador, parece não acreditar: “o cara querendo me espancar, porque eu sou do candomblé”, disse.
Segundo Maíra Vida, Jaciara ficou muito abalada com os riscos à vida, integridade física e saúde mental. “Ela nos contatou profundamente mobilizada, dizendo que havia sido perseguida, xingada e ameaçada por um homem desconhecido”, relatou.
Além do pedido à Coercid, a seccional também enviou um ofício ao Ministério Público da Bahia; à Rede de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa da Bahia; à Coordenação de Direitos Humanos e Coordenação de Promoção da Equidade Racial da Defensoria Pública; e ao Centro de Referência de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa Nelson Mandela. No documento, a OAB Bahia solicitou a identificação da comunidade religiosa do acusado e suas respectivas lideranças, para apurar as responsabilidades quanto ao fomento do discurso de ódio.
“Os fenômenos de intolerância religiosa, racismo religioso e racismo institucional não são incidentes isolados, mas o reflexo de um sistema que ainda marginaliza religiões afro-brasileiras e, portanto, precisam, mais do que repúdio e indignação, de ações efetivas e imediatas das autoridades”, disse Maíra.
Ainda segundo ela, a Ialorixá se prontificou a contribuir com o caso e impulsionar as instituições a cumprirem seus papéis de investigação e promoção de acesso à justiça, com conseguinte responsabilização e reparação. “E a OAB Bahia, claro, coloca-se à disposição para atuar no fortalecimento da rede de cuidado e sistema de garantias neste e em qualquer outro caso que venha a ocorrer”, concluiu.