OAB-BA reúne intelectuais para discutir a igualdade racial
Pessoas dos mais diversos segmentos sociais compareceram ao auditório da OAB para participar Seminário Estadual de Promoção da Igualdade, durante a manhã de hoje (28). A mesa do evento foi composta pelo presidente da Seccional, Saul Quadros; a presidente da Comissão de Promoção da Igualdade da OAB-BA, Eunice Martins; a conselheira federal da OAB, Sílvia Cerqueira; o conselheiro federal, Durval Ramos Neto; a secretária de Promoção da Igualdade do Estado da Bahia, Luiza Bairros; o professor Hélio Santos; a coordenadora executiva do Centro do Estudante Afrobrasileiro, Vilma Reis; o presidente da Associação Baiana de Imprensa, Samuel Celestino, entre outros.
Saul Quadros abriu o evento destacando a importância da promoção da igualdade racial para a OAB e para o Estado. "Este encontro estadual antecede o 1º Seminário Internacional Sul-Americano de Promoção da Igualdade que será realizado em Salvador no próximo semestre com apoio da Ordem dos Advogados do Brasil".
O primeiro palestrante do evento foi o professor Hélio Santos que falou sobre os Avanços, Desafios e Perspectivas da Política e Promoção da Igualdade Racial. Para ele os principais desafios a serem superados para que as ações afirmativas avancem são o político e o administrativo. "O estado brasileiro não tem experiência para trabalhar a questão racial. É necessário o controle antes de estabelecer planos, deve-se estabelecer indicadores para, posteriormente, comparar resultados".
Sobre o fator político, Santos colocou como exemplo as políticas de imigração que favoreceram os europeus e japoneses que vieram ao Brasil contrapondo que os afros-descendentes nunca tiveram um tratamento similar. "As cotas não são políticas, são metodologias. O conceito de ação afirmativa coloca que devemos tratar as pessoas em condições desiguais de forma desigual. Durante os quatro anos das cotas para o ensino superior ingressaram mais alunos negros do que em toda história", explica Santos.
O presidente da Associação Baiana de Imprensa (ABI), Samuel Celestino abordou A Posição da Mídia em Crimes Atribuídos a Afrodescendentes colocando que não há uma posição da ABI sobre esse tema pois ainda não houve uma discussão com os veículos de comunicação do Estado, mas ele pontuou que, atualmente, cerca de 70% dos jornalistas baianos são negros e estão nas redações de jornais. Para Celestino, Salvador é uma cidade com sua ampla maioria negra e muitos são pobres. Em razão das dificuldades econômicas e sociais, o contato de jovens com drogas e a violência é mais facilitado.
A conselheira federal Silvia Cerqueira chamou a atenção para a necessidade de mudança da exposição dos negros na mídia e que eventos para este tipo de discussão devem ser cada vez mais promovidos em instituições como a OAB. "Pouquíssimas pessoas sabem quem foi Francisco Montezuma porque ele é negro. Foi um dos fundadores da Ordem dos Advogados do Brasil, grande pensador e político".
"A tarefa de enfrentar o racismo na Brasil não é dos negros, mas da sociedade brasileira". Foi com essa frase que a coordenadora executiva do Centro do Estudante Afrobrasileiro,Vilma Reis, iniciou sua explanação sobre a Liberdade de Imprensa. Ela lembrou a ação que o CEAFRO impetrou com o Ministério Público contra alguns programas veiculados na TV da capital baiana por conta do conteúdo exibido.
"A questão na verdade é: "qual o interesse desses programas em veicular esses fatos?" Para ela, no Brasil, as pessoas privilegiadas não têm vergonha do legado escravista da história do país, da destruição moral dos afrodescendentes. Reis colocou como exemplo uma comparação entre o Brasil, África do Sul e Estados Unidos. "A África do Sul já está com o seu terceiro presidente negro. Os Estados Unidos elegeram no ano passado o seu primeiro presidente afrodescendente. O Brasil ainda não rompeu a chamada "linha de ódio", por isso a mídia tenta acabar com a imagem do negro", afirmou Vilma Reis. Para a secretária de Promoção da Igualdade, Luiza Bairros, "as mudanças só ocorrem quando as mentalidades mudam".